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Há alguns anos, médicos ortopedistas, fisioterapeutas e outros profissionais da saúde vêm chamando atenção para um problema de postura desencadeado pelo uso excessivo dos smartphones. Em inglês, a postura conhecida como “text neck” – pescoço de texto – refere-se à maneira como as pessoas inclinam a cabeça para consultar o aparelho. Segundo um estudo publicado pela National Library of Medicine, por Kenneth Hansraj, a preocupação é justificada.

De acordo com ele, com o tempo, a má postura pode levar ao desgaste da coluna vertebral, sobrecarregando as vértebras cervicais, o que pode motivar casos de degeneração tratáveis apenas com cirurgias. O primeiro sintoma de que o problema pode ter se iniciado é a dor na região superior das costas e no pescoço. Segundo Hansraj, trata-se de uma epidemia ou, pelo menos, algo muito comum. “Basta olhar ao redor, todos estão com suas cabeças abaixadas”, afirmou em entrevista ao Washington Post.

A fisioterapeuta Patrícia Zanetti, conselheira do Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional de Mato Grosso do Sul, ressalta que a Organização Mundial de Saúde (OMS) considera a síndrome epidêmica. Ela aponta que a má postura provocada pelo uso de smartphones pode ocasionar, principalmente em crianças e jovens em período de crescimento ósseo, alteração da biomecânica da coluna cervical (pescoço), levando a comprometimentos posturais fixos.

À medida que a inclinação se acentua, maiores são as complicações. A cabeça de um adulto pesa, em média, entre cinco e oito quilos. Contudo, à medida que a cabeça dobra para frente e para baixo, a pressão sobre a coluna cervical aumenta. Uma inclinação de 15 graus significa uma pressão de cerca de 12 quilos. Ao chegar a 60 graus, o peso equivale a quase 30 quilos.

O estudo de Hansraj demonstrou que adultos podem passar de 700 a 1,4 mil horas por dia nessa posição. Em adolescentes em idade escolar, pode-se chegar a cinco mil horas. É como se jovens e adultos estivessem passando todo esse tempo carregando uma criança de oito anos nas costas. Segundo o especialista, é possível que jovens passem a necessitar de cuidados cada vez mais cedo.

 

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Entre os problemas que podem ser causados estão a tensão muscular, a compressão de nervos e hérnias de discos. Sem tratamento e mudança de postura, há risco de que a curva natural do pescoço acabe desaparecendo. Em adultos que usam muito o smartphone, o risco de desenvolver problemas é de 58%.

Além dos riscos causados à espinha, especialistas ressaltam que a má postura pode causar outros problemas, como a redução de até 30% da capacidade dos pulmões. Dores de cabeça e problemas neurológicos, assim como depressão e doenças cardíacas, também estão relacionados à má postura – embora ainda não se tenha medido a relação entre a síndrome do pescoço de texto e elas.
Algumas medidas simples podem garantir um pouco mais de saúde à postura na hora de utilizar o smartphone. Olhar para baixo com os olhos, sem dobrar o pescoço, é uma das dicas para reduzir o estresse na região.

Um exercício de alongamento também é eficaz. Basta mover a cabeça da esquerda para a direita várias vezes. Outra opção é utilizar a soleira de uma porta para esticar o corpo, levantando os braços e projetando o tórax para frente, fortalecendo, assim, os músculos necessários a uma boa postura.

“O tratamento principal para esta síndrome é a prevenção; mas, em casos já instalados, incluem-se a fisioterapia com técnicas de terapias manuais, exercícios planejados de fortalecimento muscular, alongamentos, correção postural, hidroterapia e eletrotermofototerapia”, explica Patrícia.

Segundo ela, é preciso prestar atenção aos sinais que o organismo emite. “O corpo humano é perfeito, mesmo sendo agredido por nós mesmos, ele sempre vai dar sinais, indícios de que há algo errado ocorrendo, por isso utiliza-se do mecanismo da dor”, afirma a fisioterapeuta. A dor deve ser vista como um alerta de que algo não está funcionando como deveria.

Além da dor, é possível perceber uma postura mais arqueada da região do pescoço, além dos possíveis desconfortos dos sintomas de dores no pescoço, ombro, costas, braços, dedos, mãos, pulsos e cotovelos, podendo ocasionar ainda cefaleias, dormências e formigamento das extremidades superiores.

Fonte: Correio do Estado